Enzo Ferrari não gostava de dar nas vistas ao volante dos seus carros

Enzo Ferrari teve sempre uma relação dúbia com os automóveis que utilizou no dia-a-dia. Este ano, por altura da celebração do 120º aniversário do nascimento do "Comendador", o Museu Ferrari em Modena tem patente ao público a exposição "Driven by Enzo" que mostra a evolução do estilo e da tecnologia dos modelos da marca, bem como dos veículos que fizeram parte do quotidiano de Enzo Ferrari.

O patrão de Maranello nunca se desligou da sua faceta de piloto e testava todos os novos modelos da Ferrari, mas para uma utilização pessoal procurava o carácter desportivo e o conforto das versões de quatro lugares. E o primeiro modelo que pode ser identificado com ele é o Ferrari 250 GT 2+2 de 1960.

"Em 1960 ofereceu a si próprio um Ferrari" recordou Gino Rancati, um dos seus biógrafos, no livro "il Commendatore". "Até essa altura andava seis meses de Fiat, seis meses em Alfa Romeo e seis meses de Lancia, para não desagradar a ninguém, como costumava dizer".

O Ferrari "foi pago do seu bolso cerca de cinco milhões de liras. Gerolamo Gardini, o director comercial da fábrica seguiu as regras e apenas consentiu num pequeno desconto. Isto passou-se numa época em que Ferrari detinha o poder absoluto. Nada se fazia sem ele. Mesmo um piloto que necessitasse de combustível para um teste (ou uma viagem) devia apresentar na bomba de abastecimento um documento com a assinatura do patrão".

Mas Enzo Ferrari não gostava de dar nas vistas e a 7 de Julho de 1960, quando se deslocou à Universidade de Bolonha para receber um título "honoris causa", o comendador perguntou a Gino Rancati, que o acompanhou à cerimónia: "Que carro deveremos levar? Eu sugeri o Ferrari – "Mas que bela prova de respeito face aos professores. O que é que eles vão dizer depois de nos verem chegar num carro de cinco milhões, eles que talvez se desloquem a pé", contrapôs Enzo Ferrari.

"Na época o comendador tinha um Peugeot 404, que pertencia a um dos seus cunhados que residia em Lyon (...). Depois dele rejeitar categoricamente o Ferrari, avancei com a sugestão do Peugeot: "Os meus cumprimentos Gino – uma universidade italiana honra-me e eu chego ao volante de um carro estrangeiro". Sugeri então ir de comboio, sabendo que ele nem se dignaria a responder. Comboio, avião e elevadores eram "meios" que ele jamais utilizava. Acabámos por ir de Peugeot, mas estacionamos a cerca de um quilometro da universidade e seguimos o resto do caminho a pé"...

Enzo Ferrari apreciava a discrição e evitava a exuberância dos automóveis que produzia. Mas para além do 250 GT 2+2 dos anos 60, também teve carros como o 400 GTi, o 412 e um 456 GT. Em 1969 Enzo decidiu contratar um motorista, que na maioria das vezes ocupava o lugar do passageiro. Era mais um companheiro de viagem do que um condutor...

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